364 - O transtorno de acumulação compulsiva é uma condição psiquiátrica caracterizada pela dificuldade extrema em descartar ou se desfazer de objetos, levando ao acúmulo excessivo e desorganizado de posses. Esse comportamento pode comprometer áreas essenciais da casa, tornando-as inutilizáveis e interferindo na rotina da pessoa.
Diferentemente dos colecionadores, que organizam e categorizam seus itens, quem sofre desse transtorno acumula de maneira caótica, sem distinção de valor ou utilidade.
Os primeiros sinais costumam surgir na adolescência e se agravam com o tempo, tornando-se mais problemáticos por volta dos 30 anos. Estima-se que entre 2% e 6% da população sofra dessa condição, com incidência semelhante entre homens e mulheres.
Quando o acúmulo se torna um problema
A pessoa com transtorno de acumulação compulsiva sente uma forte necessidade de adquirir e guardar objetos, experimentando grande angústia ao pensar em se desfazer deles. Como consequência, o ambiente torna-se desorganizado e inabitável. Alguns exemplos incluem:
- Pilhas de jornais cobrindo o chão, bancadas e pias;
- Móveis e eletrodomésticos inutilizáveis devido ao excesso de objetos sobre eles;
- Impossibilidade de cozinhar, dormir ou realizar tarefas básicas devido à desordem.
Além do impacto na vida doméstica, o transtorno pode prejudicar o convívio social e a vida profissional. Muitos pacientes evitam receber visitas por vergonha da situação. O acúmulo excessivo também representa riscos à saúde e segurança, como incêndios, infestação de pragas e contaminação do ambiente.
Em alguns casos, a pessoa reconhece o problema, mas não consegue mudar seu comportamento. No entanto, muitos indivíduos não percebem a gravidade da situação, o que torna o tratamento ainda mais desafiador.
Diagnóstico e diferenciação
O diagnóstico do transtorno de acumulação compulsiva é feito por um profissional de saúde mental, com base nos critérios estabelecidos por manuais psiquiátricos, como o DSM-5.
Para ser considerado um transtorno, é necessário que a acumulação compulsiva apresente os seguintes critérios:
- Dificuldade extrema em descartar objetos, independentemente do valor real;
- Forte necessidade de guardar itens, sentindo angústia ao se desfazer deles;
- Acúmulo desordenado de objetos em áreas de convivência, comprometendo sua funcionalidade;
- Sofrimento emocional significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou familiar.
A condição se distingue de situações temporárias, como o acúmulo após herdar bens de um parente, ou do colecionismo organizado, onde há critério e planejamento.
Tratamento: terapia e suporte profissional
O tratamento pode incluir terapia cognitivo-comportamental (TCC) e medicação, dependendo da gravidade do caso.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
A TCC é a principal abordagem terapêutica e visa modificar os padrões de pensamento e comportamento do paciente. Algumas técnicas utilizadas são:
- Treinamento para descarte progressivo de objetos de forma menos angustiante;
- Controle da aquisição excessiva de novos itens;
- Reestruturação cognitiva, ajudando a pessoa a desafiar crenças irracionais sobre o valor dos objetos;
- Técnicas motivacionais, incentivando o paciente a participar ativamente do tratamento.
Uso de medicamentos
Em alguns casos, antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), podem ajudar, especialmente quando há quadros associados de depressão ou ansiedade.
Apoio familiar: a linha entre ajuda e imposição
O papel da família é essencial, mas a remoção forçada dos objetos pode gerar grande sofrimento e até agravar o quadro. O ideal é incentivar a busca por apoio profissional e oferecer suporte emocional sem imposições radicais.
O transtorno de acumulação compulsiva é uma condição crônica que pode comprometer gravemente a qualidade de vida do paciente e de seus familiares. Embora não tenha cura definitiva, o tratamento adequado pode reduzir os sintomas e melhorar significativamente o bem-estar do indivíduo.
A combinação de terapia, suporte emocional e, em alguns casos, medicação pode trazer avanços importantes. O primeiro passo é o reconhecimento do problema e a busca por ajuda especializada.
Fonte: Brasil364
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